Minieditorial • Arq. Bras. Cardiol. 122 (3) • 2025 • https://doi.org/10.36660/abc.20250147 linkcopiar
Imageamento por Ressonância Magnética; Infarto do Miocárdio; Eletrocardiografia
Magnetic Resonance Imaging; Myocardial Infarction; Electrocardiography
Imageamento por Ressonância Magnética; Infarto do Miocárdio; Eletrocardiografia
Magnetic Resonance Imaging; Myocardial Infarction; Electrocardiography
No artigo “Detecção e localização do infarto do miocárdio pelo eletrocardiograma: validação pela ressonância magnética cardiovascular”,1 os autores analisam de forma sistemática e completa a relação entre a presença de ondas Q patológicas no eletrocardiograma (ECG) e o realce tardio com padrão isquêmico na ressonância magnética (RM). São apresentados dados muito relevantes sobre o desempenho diagnóstico do ECG na detecção e localização do infarto do miocárdio (IM), expandindo as evidências acumuladas em estudos anteriores.
Os autores estudaram dois grupos de pacientes: um composto por pacientes com histórico documentado de IM e o outro selecionado entre pacientes diabéticos sem anormalidades cardíacas significativas na RM.
Os resultados do presente estudo destacam a sensibilidade moderada do ECG no diagnóstico de IM, em consonância com o estudo de Jaarsma et al.,2 mas notavelmente superior à sensibilidade de 13,2% encontrada em uma metanálise recente de estudos de coorte prospectivos.3 Deve-se enfatizar que o ECG apresentou sensibilidade significativamente maior para IM com áreas mais extensas de fibrose e com maior número de segmentos com fibrose transmural. A maior sensibilidade observada no presente estudo e no estudo de Jaarsma et al.2 pode ser atribuída à seleção de pacientes com tamanhos maiores de infarto, pois ambos os estudos incluíram principalmente pacientes que apresentaram IM com supradesnivelamento do segmento ST.
Embora a presença de ondas Q patológicas no ECG tenha sido inicialmente associada a infartos transmurais, estudos de RM desafiaram esse conceito, relatando uma associação mais próxima com o tamanho total do território do infarto do que com cicatrizes transmurais.4,5
A concordância entre ECG e RM para detectar a localização da cicatriz miocárdica foi limitada. Vale ressaltar que a sensibilidade do ECG foi significativamente menor para detectar IM na parede lateral, um achado que corrobora resultados anteriores de estudos menores.6,7
A detecção de um IM em pacientes assintomáticos tem implicações prognósticas importantes, uma vez que um IM não reconhecido confere um risco aumentado de eventos cardiovasculares adversos importantes em diferentes populações.3,8-10
A prevalência de IM não reconhecido varia com base nos métodos de triagem e no risco cardiovascular da população estudada. Em adultos mais velhos, a prevalência de IM não reconhecido detectado por ECG pode exceder 5%.11 Entretanto, em uma região europeia com baixo risco cardiovascular, Ramos et al.12 relataram uma prevalência de ondas Q anormais de 0,67%, mas apenas 0,18% de IM confirmado por métodos de imagem adicionais.
No presente estudo, o recrutamento de participantes foi baseado em pacientes após IM clinicamente reconhecido ou com diabetes, o que pode limitar a generalização dos resultados para a população geral do país. Além disso, os padrões de ECG e o desempenho diagnóstico podem diferir entre IM não reconhecido e clinicamente reconhecido. Portanto, dados insuficientes estão presentes para reconhecer o uso de EGG para triagem generalizada em populações não selecionadas.
Por outro lado, o uso de medicamentos cardioprotetores em pacientes com IM não reconhecido foi significativamente menor do que em pacientes com IM conhecido,13 portanto, em pacientes com risco cardiovascular aumentado, um ECG pode ser recomendado para rastrear alterações isquêmicas. No entanto, um ECG sem ondas Q pode ser insuficiente para uma exclusão correta de IM prévio em diabéticos e outras populações de alto risco.10,14 O uso de parâmetros adicionais de ECG e/ou exames de imagem nessas populações pode potencialmente modificar a avaliação de risco e intervenções terapêuticas subsequentes.
Considerando as limitações diagnósticas do ECG e as dificuldades de acesso aos exames de imagem, estudos adicionais são necessários para abordar os benefícios clínicos e a relação custo-eficácia dessa abordagem, tanto na população em geral quanto em populações selecionadas de alto risco cardiovascular.
Referências
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- Minieditorial referente ao artigo:
Detecção e Localização do Infarto do Miocárdio pelo Eletrocardiograma: Validação pela Ressonância Magnética Cardiovascular
Datas de Publicação
- Publicação nesta coleção
12Maio2025 - Data do Fascículo
2025
Histórico
- Recebido
23Fev2025 - Revisado
28Fev2025 - Aceito
28Fev2025